sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pela Toca do Coelho



Para baixo, para baixo, para baixo. Essa queda nunca chegará ao fim?

Alice não estava nem um pouco machucada, e pôde saltar sobre os pés num instante: olhou para cima mas estava tudo escuro sobre sua cabeça, diante dela havia outro grande túnel e o Coelho Branco ainda estava à vista, apressado.



Não havia nenhum momento a perder! lá se foi Alice como vento, exatamente a tempo de ouvi-lo dizer, quando virara a esquina: "Oh! minhas orelhas e minhas vibrissas, como está ficando tarde!"

Havia portas por toda a volta do aposento, mas estavam todas trancadas, e depois que Alice percorreu uma a uma, tentando cada porta sem sucesso, ela voltou tristemente para o centro do quarto, pensando sobre como sairia daquela.

De repente, encontrou uma pequena mesa de três pés, toda feita em vidro sólido: não havia nada sobre ela senão uma minúscula chave dourada e a primeira idéia de Alice foi de que ela deveria pertencer a uma das portas da sala; "mas, ai de mim!, ou as fechaduras são muito grandes ou a chave muito pequena, mas de qualquer maneira não iria abrir nenhuma das portas." Entretanto, na segunda tentativa, Alice encontrou uma cortina que não havia percebido antes, e atrás dela existia uma pequena porta de aproximadamente 40 centímetros: a menina colocou a pequena chave dourada na fechadura e, para seu grande prazer, ela encaixou!

Alice abriu a porta e viu que dava para uma pequena passagem, não muito maior que um buraco de rato: ela ajoelhou-se e avistou o mais adorável jardim que jamais vira. Como ela gostaria de sair daquela sala escura e passear por entre aqueles canteiros de flores viçosas e aquelas fontes geladas...mas ela nem mesmo conseguiria fazer passar sua cabeça pela porta; "e mesmo que a minha cabeça passasse", pensou a pobre Alice, "teria pouca utilidade sem meus ombros. Oh! como eu desejo poder encolher como um telescópio. Eu acho que poderia, se ao menos soubesse como começar."

Vejam só, tantas coisas estranhas tinham acontecido ultimamente que Alice começara a pensar que muito poucas coisas eram na verdade realmente impossíveis.

Não havia muito sentido em ficar esperando ao lado da portinha e então Alice voltou em direção à mesa, com esperança de poder encontrar outra chave sobre ela ou, quem sabe, um livro de regras para ensinar as pessoas a encolherem como telescópios: desta vez ela encontrou uma pequena garrafa sobre ela ("que certamente não estava sobre aqui antes", disse Alice) e amarrada ao redor do gargalo estava uma etiqueta com as palavras "BEBA-ME" lindamente impressa em palavras grandes.

Tudo bem dizer "BEBA-ME", mas a sábia Alice não ia fazer aquilo apressadamente. "Não, eu vou olhar primeiro", disse ela, "e ver se está marcado veneno ou não; Alice já lera muitas lindas histórias sobre criancinhas queimadas ou engolidas por feras selvagens e outras coisas desagradáveis, tudo porque não tinham lembrado das regras simples que seus amigos falavam para elas. Por exemplo: um atiçador de lareira pode queimá-lo se você segurar por muito tempo, ou, se você cortar seu dedo muito fundo com uma faca, geralmente sangra; e ela nunca esquecera aquela: se você beber de uma garrafa que diz "veneno" é quase certo que isso irá prejudicá-lo, cedo ou tarde.

Entretanto, esta garrafa não tinha gravado "veneno", daí, Alice aventurou-se a experimentá-la e, achando o sabor muito gostoso ( o conteúdo tinha, de fato, um tipo de mistura de torta de cereja, creme de ovos, leite e açúcar, abacaxi, peru assado, toffy e torradas quentes), ela bem rápido acabou com ele.

"Que sensação estranha", disse Alice. "Eu devo estar encolhendo como um telescópio!"

E daí era fato, ela estava agora com apenas 25 centímetros de altura, e seu rosto resplandeceu ao pensar que aquele era o tamanho exato para atavessar a portinha em direção ao adorável jardim. Primeiro, entretanto, ela esperou alguns minutos para ver se ainda iria encolher: ela sentiu-se um pouco nervosa em relação ao fato "porque isso pode resultar, você sabe", disse Alice para si mesma, "em eu sumir como uma vela". A menina ficou pensando como seria, tentando imaginar como a chama de uma vela se parece depois que a vela acaba e ela não conseguiu lembrar de ter visto alguma vez algo assim.

Afinal, achando que nada mais aconteceria, ela decidiu-se a entrar no jardim, mas, pobre Alice! quando ela chegou na porta, lembrou-se que tinha esquecido a pequena chave dourada, e quando voltou até à mesa, percebeu que não era possível pegá-la: Alice podia avistá-la através do vidro e tentou o máximo possível para escalar uma das pernas da mesa, mas era muito escorregadia; e quando desistiu, a pobrezinha sentou-se e chorou.

"Vamos, não há razão para chorar assim", disse Alice. Eu lhe aconselho deixar isso pra lá neste minuto." Normalmente ela se dava bons conselhos (embora raramente os seguisse) e às vezes repreendia-se tão severamente que chegava a ficar com lágrimas nos olhos, e uma vez ainda lembrava-se de ter tentado boxear suas próprias orelhas por ter trapaceado consigo mesma em um jogo de críquete que jogava com ela mesma, pois essa curiosa criança gostava de fingir ser duas pessoas.

"Mas não adianta agora", pensou a pobre Alice,"querer ser duas pessoas! Porque é suficientemente difícil para mim ser uma pessoa respeitável."

Logo seu olho caiu sobre uma pequena caixa de vidro que jazia sob a mesa: ela abriu-a e encontrou um pequeno bolo, no qual a palavra "COMA-ME" era lindamente inscrito. "Bem, eu vou comê-lo", pensou Alice, "e se isso me fizer crescer eu posso pegar a chave; se ele me tornar muito pequena eu passo por baixo da porta. Então, de qualquer maneira, eu vou para o jardim e não me importa o que acontecer!"

Alice comeu um pedacinho e disse ansiosamente para si mesma."E agora? E agora?", colocando a mão no topo da cabeça para sentir se estava crescendo. Ela ficou surpresa ao perceber que permanecera do mesmo tamanho. Para falar a verdade, é isso o que normalmente acontece quando se come um bolo, mas Alice já estava acostumada a não esperar nada senão coisas extraordinárias acontecendo, que as coisas acontecerem de uma maneira normal parececia chatisse.

Então, ela pôs mãos à obra e muito rapidamente acabou com o bolo.

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